A universalização dos serviços de esgotamento sanitário e abastecimento de água colocados pelo novo marco legal do saneamento como objetivos a serem alcançados até 2033 trouxe grandes desafios para os municípios e, por conseguinte, para as empresas de saneamento. A nova lei estabelece que os serviços de água atinjam a 99% da população, e que os de coleta e tratamento de esgotos, 90%. A Corsan quase alcançou a meta em abastecimento de água. Conforme o Relatório de Administração 2020, a Companhia atende 96,58% da população nos municípios clientes. No entanto, no esgotamento sanitário o índice de atendimento é de somente 17,61%, faltando um largo caminho de projetos e obras. Para atingir o patamar fixado pela lei em pouco mais de 12 anos, a Corsan traçou um plano de investimentos audacioso, da ordem de R$ 10 bilhões, que se desdobra em uma grande quantidade de obras.
Para fazer frente a tamanho desafio, a Companhia está promovendo uma maior integração entre as suas diversas áreas, além de adotar vários programas de gestão. Especificamente na Diretoria de Expansão (Dexp), que é a área encarregada do projeto e construção das estruturas que formam os sistemas de água e esgoto, houve uma profunda reorganização interna. O modelo de gestão foi adequado para que ficasse mais direcionado às entregas, mais direcionados para a funcionalidade da obra e tendo como foco o resultado. O diretor da Dexp, Julio Hofer, explica que foi adotada a gestão por indicadores, priorizando a qualidade; o trabalho por processo; melhorias de sistemas e procedimentos; maior integração da Dexp internamente e com outras áreas da Corsan. Hofer também agrega à lista das novas diretrizes a gestão patrimonial, conceito que vem sendo implantado para imprimir mais qualidade ao projeto, tanto na execução quanto na vida útil da estrutura que venha a ser construída.
Novas licitações
Além do redirecionamento interno, a mudança também começa a acontecer no relacionamento na área de contratações. Desde abril passado, a partir da licitação para a construção de uma nova Estacão de Tratamento de Água (ETA) em Santa Cruz do Sul, a Corsan passou a adotar a contratação semi-integrada. Trata-se de um tipo de licitação que vem sendo utilizada principalmente para grandes obras, com um desenvolvimento mais complexo. Nessa modalidade, a contratante publica junto com a licitação o projeto básico da obra. A partir daí, as empresas interessadas verificam se têm capacidade para fazer frente ao trabalho proposto e propõem o seu trabalho. A escolha não se atém somente a preço, mas leva muito em consideração o histórico de qualidade dos trabalhos já concluídos pela pleiteante. A empresa contratada será a única empresa a responder pela obra, tendo o compromisso de entregar desde o detalhado projeto executivo até a estrutura final concluída e operando.
Até recentemente, cada obra pressupunha para a Companhia gerenciar o relacionamento com uma grande variedade de fornecedores, sendo que, por exemplo, um atraso em entrega de um deles poderia comprometer o cronograma geral da obra. Esse tipo de licitação simplifica o gerenciamento pela Corsan, o que é muito bem-vindo quando a empresa se prepara para ampliar, e muito, sua carteira de obras em execução. Hofer destaca que a modalidade semi-integrada faz com que a contratada tenha mais responsabilidade pelo conjunto da obra, assumindo riscos que antes eram somente da Corsan. Segundo ele, isso diminui a necessidade de aditivos contratuais, promovendo mais economia e cumprimento do cronograma acordado. “No passado, contratamos obras por projetos muito básicos, que tiveram várias necessidades de alteração durante a execução. O resultado disso foram aditivos contratuais, necessidade de recurso adicional, muitas vezes redimensionamento do escopo da obra, atrasos, retrabalho, além da possibilidade de provocar certo litígio entre a Corsan e os empreendedores”, conta. Segundo Hofer, a nova modalidade traz melhoria de qualidade, de entrega, de prazo e, pela melhoria de proponentes, reflexo nas propostas financeiras.
As vantagens não terminam por aí. O diretor acrescenta que com essa modalidade o fornecedor tem a possibilidade de aportar soluções inovadoras para a obra, introduzindo tecnologias e melhorando a performance. Sobre a área de contratação, Hofer diz que a Corsan está numa fase intermediária. “O que se vê para o futuro são obras com sistema totalmente integrado”, comenta, referindo-se à modalidade de licitação em que a contratada assume, inclusive, o projeto básico. No item contratação, a Companhia também ampliou a adoção do pregão eletrônico para as grandes obras, facilitando que empresas de todo o país possam participar da licitação.
Presente e futuro
No ano passado, mesmo com a pandemia, a Corsan registrou o maior resultado em investimentos da sua história, num total de R$ 416,9 milhões. Porém, o desafio da universalização é urgente. A Companhia trabalha no mapeamento e na priorização do que precisa ser feito. “Quando estruturamos o plano de expansão em 2019 percebemos a necessidade de buscar alternativas ao modelo que vinha sendo executado para atendimento dos compromissos assumidos junto aos municípios e agências reguladoras. Essencialmente a Dexp verificou que, para atendimento dos objetivos, seria necessário buscar um novo modelo de gestão, estruturar e incentivar alternativas tecnológicas de execução, ampliar a produtividade interna da equipe da Corsan, ampliar a capacidade com a contratação de serviços terceirizados de projetos e fiscalização, auxiliar na viabilização de PPPs e do sistema individual através do SoluTrat. Outra necessidade fundamental estava em reorganizamos os cronogramas de obras em execução com foco na finalização e funcionalidade dos empreendimentos. Para tanto, viabilizamos melhores condições para a equipe de fiscalização acompanhar e cobrar os fornecedores no caso de não atendimento, o que fez com que as obras tivessem um ritmo de execução mais efetivo. Os resultados da nossa estratégia e de iniciativas implementadas pela equipe da Dexp trouxeram resultados significativos no andamento e na finalização de empreendimentos, beneficiando a população atendida pela Corsan em vários municípios”, afirma o diretor. Para tanto, a Dexp iniciou contrato de R$ 35 milhões para trabalhar externamente os projetos, possibilitando um maior volume simultâneo de licitações, contratações e execuções de obras. Na área de fiscalização, estão sendo investidos R$ 27 milhões, trazendo um maior número de técnicos qualificados para acompanhar as obras.
Ao todo, a diretoria implementou 21 projetos para a melhoria de processos. Entre eles, a digitalização total do processo de parcelamento de solo; o Projeto Fiscal Eletrônico, que está em fase de implantação, para a fiscalização digital de obras; novo modelo de contratação de obras; padronização de projetos; e a remodelação da Superintendência de Hidrogeologia (Suhid) com novos equipamentos, novos veículos e novos alojamentos, para melhorar as condições de trabalho. A estrutura da Suhid foi modernizada, a logística de atendimento e planejamento foram melhorados, resultando em maior eficiência, redução de custos e aumento significativo na produtividade.
Atualmente, entre as principais obras em execução pela Corsan estão as que promovem a ampliação do tratamento de esgoto, adução e reservação de água em Bento Gonçalves, Gramado, Canela e Farroupilha, assim como as obras de rede e de tratamento de esgoto em Santa Maria.
“Como essa estratégia de expansão, buscamos estruturar e incentivar alternativas de execução que envolveram ampliar a capacidade interna da equipe, contratar serviços terceirizados, auxiliar na viabilização de PPPs e do sistema individual por meio do SoluTrat. Também reorganizamos os cronogramas de obras em execução com foco na finalização e funcionalidade dos empreendimentos. Demos melhores condições para a equipe de fiscalização efetivamente acompanhar e cobrar os fornecedores no caso de não atendimento, o que fez com que as obras tivessem um ritmo de execução mais efetivo. Os resultados de nossa estratégia e de iniciativas implementadas trouxeram resultados significativos no andamento e na finalização de empreendimentos, beneficiando a população atendida pela Corsan em vários municípios”, conclui.